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Embora 96% dos consumidores brasileiros considerem importante a aprovação de uma lei de proteção de dados, até o mês passado 42% desconheciam a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em setembro. Na divisão por faixa etária, 51% dos entrevistados com idade entre 18 e 25 anos disseram não saber o que é LGPD ou Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais .

Os percentuais aparecem num levantamento realizado pela firma de consultoria e pesquisa de mercado Gartner na primeira quinzena de outubro.

Autor da pesquisa, o analista de conteúdo Lucca Rossi, da Capterra, braço especializado em tecnologia e software para empresas da Gartner, reconhece que o resultado pode parecer contraditório. Especialmente se partimos do pressuposto de que as gerações mais novas têm, em tese, mais familiaridade com a tecnologia. Mas a percepção dos millennials, nascidos entre os anos 1980 e meados da década de 1990, e de gerações posteriores foi moldada pela redes sociais, diz Rossi.

“A geração dos millennials — e ainda mais a Z, os nascidos a partir de 1995 — entrou no mundo digital quase em sua totalidade pela porta das redes sociais, numa época em que se discutia pouco a questão dos dados e da privacidade na rede e sua relação com a publicidade, por exemplo. Quando o Facebook explodiu, alguém estava se perguntando por que era grátis?”, observa o analista de conteúdo.

Pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), a advogada Priscilla Silva sustenta que o acesso dos brasileiros à internet foi moldado em grande parte pelos aplicativos, a ponto de as pesquisas mostrarem uma confusão entre o Facebook e a internet propriamente dita. A discussão sobre privacidade no ambiente digital ainda é muito recente e incipiente no país, mesmo no meio jurídico, acrescenta a especialista. “A Europa discute a proteção de dados desde o início dos anos 1990”, compara.

O desconhecimento da LGPD é menor, de acordo com a Gartner, em faixas etárias mais altas. É de 38%, por exemplo, para os consumidores com idade entre 36 e 45 anos. Gerações anteriores, que adotaram novas tecnologias inicialmente para questões de trabalho, vinham de um mundo analógico (ou ao menos conheceram melhor esse mundo), em que os termos de um contrato eram assinados com papel e caneta e não virtualmente, argumenta o autor do estudo. “Por isso mostram uma relutância maior em deixar seus dados ou fazer compras pela internet”, justifica Rossi.

No Brasil, somente 16% dos entrevistados afirmam se certificar sempre sobre o que acontece com suas informações antes de entregá-las às empresas e 44% o fazem “de vez em quando”. “O brasileiro está muito acomodado com os ganhos que os aplicativos proporcionam”, opina Priscilla, do ITS. “Não veem perdas concretas [de abrir mão da privacidade digital].”

A pesquisa mostra ainda que, para 72% dos entrevistados, as empresas não estão totalmente preparadas para atender as demandas dos consumidores com relação aos seus dados pessoais previstas na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais). Ainda assim, os dados apontam para uma visão otimista dos brasileiros com relação aos efeitos da lei, ressalta Rossi.

“Em um país com tantos problemas relacionados à segurança, qualquer iniciativa relacionada a um aumento da proteção é bem-vinda”, resume o analista.

O levantamento da Gartner teve como base entrevistas com 531 consumidores de 18 a 65 anos situados em seis faixas de renda distintas.

As entrevistas on-line foram realizadas entre 2 e 15 de outubro de 2020.

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